Ata do Copom trouxe tom contracionista e indica que juros devem seguir em alta além da reunião de março, diz economista

A ata da primeira reunião de 2025 do Copom trouxe mudanças bastante relevantes em relação ao que havia sido registrado no último encontro de 2024. O documento, o primeiro apresentado pelo comitê sob comando de Gabriel Galípolo, e com 9 dos 11 votantes indicados pelo atual governo, trouxe um tom bastante conservador e indicou que a alta de juros pode ir além 100 pontos base indicados para a reunião de março.

O cenário prospectivo segue desafiador, apesar da desaceleração da economia que vem na esteira do processo de transmissão de política monetária. O mercado de trabalho segue aquecido e coloca importante pressão de demanda sobre os preços. Além disso, o comitê ressaltou que as incertezas em relação à política fiscal e à estabilização da dívida pública tem o potencial de piorar o cenário para os índices de preços e manter os juros altos por mais tempo, pontuando a necessidade de harmonia entre política fiscal e monetária. Por fim, o Banco Central trouxe, mais uma vez, desconforto com a desancoragem adicional de expectativas.

Um destaque relevante foi a citação, pela primeira vez, do novo regime de apuração das metas de inflação. O Copom citou que as suas projeções indicam que a inflação acumulada em 12 meses deve se manter acima do intervalo de tolerância pelos próximos 6 meses consecutivos, configurando-se descumprimento de acordo com a nova sistemática. Isso indica que uma nova carta contendo o diagnóstico e as ações a serem tomadas para trazer o IPCA de volta ao objetivo precisará ser escrita.

O diagnóstico trazido pela ata do Copom e a intensa assimetria altista no balanço de riscos indicam a necessidade de política monetária mais contracionista. A autoridade monetária manteve o forward guidance indicando uma alta de mais 100 bps em março, mas não se comprometeu com ações a partir da reunião seguinte. Ainda assim, a expectativa é de que o ciclo contracionista se estenda para ao menos 15% no final do ciclo, patamar necessário para contrapor o cenário adverso e assegurar o firme compromisso com a convergência da inflação à meta.

* Marcela Kawauti é Economista-Chefe da Lifetime Asset Management. Formada pela USP e com mestrado em Economia e Finanças pela FGV, tem quase 20 anos de experiência em pesquisa econômica, riscos e educação financeira.
 

Elaine Cecília
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