O setor da construção civil é um dos pilares da economia, movimentando milhões e empregando milhares de trabalhadores em todo o país. No entanto, é também um ambiente que, muitas vezes, coloca seus trabalhadores em situações de risco, não apenas físico, mas também mental. Embora os acidentes de trabalho em canteiros de obras sejam amplamente documentados e discutidos, a saúde mental dos operários da construção civil ainda é um tema que precisa de maior atenção.
Estudos recentes têm demonstrado que os trabalhadores da construção civil estão entre as categorias profissionais mais afetadas por problemas de saúde mental, incluindo depressão e ansiedade, fatores que podem levar ao suicídio. Segundo um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), realizado em 2022, trabalhadores da construção civil estão entre os mais vulneráveis ao suicídio, sendo este o segundo maior índice de mortalidade por causa não natural entre esses profissionais.
Globalmente, o setor de construção tem um dos piores recordes de saúde mental e suicídios dos colaboradores. As taxas globais de suicídio na construção civil foram descritas como alarmantes na publicação da conferência de 2017, Suicide in the Construction Industry: It’s Time to Talk. A publicação detalhava que, em muitos países, as taxas de suicídio para aqueles que trabalhavam no setor de construção eram mais altas do que na população geral.
“As razões para isso são múltiplas: a pressão por produtividade, o ambiente muitas vezes hostil e perigoso, as jornadas extenuantes, e a falta de reconhecimento e de apoio psicológico são fatores que contribuem significativamente para esse quadro alarmante. O estigma em torno da saúde mental também impede que muitos trabalhadores busquem a ajuda de que necessitam, perpetuando um ciclo de sofrimento e isolamento” relata Ramalho da Construção, líder sindical na área da construção civil que representou os trabalhadores da área por mais de 25 anos a frente do Sintracon – Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias da Construção Civil.
O presidente licenciado da Sintracon fala sobre a importância de campanhas de conscientização como o Setembro Amarelo destacando a importância de falar sobre o tema e de promover a saúde mental. “No contexto da construção civil, essa campanha se torna ainda mais crucial, visto que os índices de suicídio nessa área são preocupantes” declara ele.
Ramalho quando esteve à frente do sindicato criou parcerias para a realização do projeto “SOS da Construção – Salvando Vidas” com o objetivo de promover a saúde mental e prevenir suicídios entre os trabalhadores da construção, mediante atendimento prévio, via telemedicina, atendimento presencial, palestras nas obras, rodas de conversas e painéis com profissionais de saúde mental.
O projeto inclui a divulgação, nas obras, dos recursos para tratamento da saúde mental do Seconci-SP, além de lives, plataforma de conteúdo, treinamentos online, oficinas de terapia ocupacional, programas especiais de prevenção personalizados, e técnicas alternativas como yoga e meditação.
O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio que ganha mais relevância a cada ano.
Durante o mês de setembro, empresas e organizações são incentivadas a promover ações que não apenas conscientizem sobre a importância de cuidar da saúde mental, mas que também ofereçam suporte real e prático aos seus colaboradores. Isso pode incluir desde palestras e workshops sobre o tema, até a disponibilização de canais de apoio psicológico e linhas de assistência que permitam que os trabalhadores busquem ajuda de forma anônima e sem medo de represálias.
Ramalho reitera que para além das campanhas de conscientização, é fundamental que a construção civil implemente programas permanentes de apoio psicológico aos seus trabalhadores. “Muitas empresas já começaram a adotar práticas como a contratação de psicólogos organizacionais, a criação de grupos de apoio e a oferta de consultas terapêuticas. Esses programas têm se mostrado eficazes não apenas na redução dos índices de suicídio, mas também na melhoria geral da qualidade de vida dos trabalhadores, que se sentem mais valorizados e cuidados. Além disso, um ambiente de trabalho mais saudável e seguro, onde a saúde mental é levada a sério, também resulta em maior produtividade e menor índice de absenteísmo, beneficiando tanto o trabalhador quanto a empresa” finaliza ele que tem uma vida de luta dedicada aos direitos dos trabalhadores.
A construção civil é um setor vital para a economia, mas também precisa ser um espaço onde a saúde mental dos trabalhadores seja prioridade. O Setembro Amarelo é uma oportunidade importante para começar ou intensificar essa conversa, mas é fundamental que as ações de apoio psicológico não se limitem apenas a esse mês. Programas permanentes de suporte psicológico podem salvar vidas e transformar o ambiente de trabalho em canteiros de obras, promovendo um setor mais seguro, humano e produtivo.
É vital, também, a elaboração de políticas públicas que garantam a Saúde Mental nos espaços organizacionais e também no SUS, a promoção e a formação de gestores públicos e privados com foco na saúde do trabalhador, o fortalecimento dos coletivos e das entidades de representação trabalhistas, a criação de espaços de acolhimento (denúncia) e o aprimoramento da rede de saúde mental, para que de fato ela esteja preparada para receber esses pacientes.
É importante a desestigmatização dos problemas de saúde mental e para descobrir benefícios complementares que poderiam evitar futuras mortes, enquanto também reduzem as considerações legais, financeiras e reputacionais que procedem inevitavelmente dessas tragédias.
As empresas de construção que adotam uma abordagem progressiva diante da saúde mental do operário estão se colocando na dianteira, tanto legal quanto moralmente.
Fonte: Ana Lopes
AL9 Comunicação