A operação Fim da Linha, realizada nesta terça-feira (9), resultou na prisão de dirigentes das empresas de ônibus Transwolff e UPBus, sediadas na capital paulista, sob suspeita de associação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Coordenada pelo Ministério Público, Polícia Militar, Receita Federal e Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, a operação desvendou um intricado esquema delituoso com ramificações na Prefeitura de São Paulo.
A denúncia apresentada pelo Ministério Público envolve dez dirigentes da Transwolff e dezoito da UPBus, acusados de crimes como organização criminosa e lavagem de dinheiro. A investigação da Receita Federal revelou que os criminosos usavam laranjas para ocultar os reais proprietários das empresas, enquanto contadores maquiavam transações financeiras para evitar detecção pelas autoridades. Esse estratagema permitia que as empresas obtivessem certidões negativas para participar de licitações da Prefeitura de São Paulo.
A superintendente da Receita Federal, Marcia Cecília Meng, destacou que as empresas usavam capitalização e regularidade fiscal indevidas para competir injustamente com outras concorrentes nas licitações. Ela ressaltou que, ao misturar dinheiro lícito com ilícito, as empresas podiam retirar lucros sob a forma de dividendos aos sócios. Em 2023, as duas empresas receberam mais de R$ 800 milhões da Prefeitura de São Paulo.
O MP enfatizou a magnitude crescente do crime organizado no país, expressando preocupação com a infiltração em licitações públicas e a comparação com máfias internacionais. O promotor Lincoln Gakiya explicou que a operação visava asfixiar financeiramente o PCC e combater sua influência na gestão pública.
A investigação revelou que as empresas não eram meramente fachadas, mas operavam de forma sofisticada, envolvendo uma rede de entidades relacionadas, que aparentavam independência, mas estavam, na verdade, interligadas para beneficiar os mesmos indivíduos. A operação também expôs a manipulação tributária das empresas, que declararam patrimônio muito abaixo do real, indicando sonegação de tributos.
Os problemas enfrentados pela população de São Paulo devido às atividades das empresas foram evidenciados, incluindo serviços de transporte de baixa qualidade e alegações de vínculos com o crime organizado. Após determinação judicial, a Prefeitura de São Paulo assumiu a operação das linhas de ônibus das empresas Transwolff e UPBus.
A ação também teve um impacto direto no PCC, interrompendo suas operações de lavagem de dinheiro e bloqueando bens dos envolvidos. Cinquenta e dois mandados de busca e apreensão foram cumpridos, resultando em diversas prisões e apreensões de armas e dinheiro.
A investigação revelou uma história longa e complexa de infiltração do crime organizado no transporte público de São Paulo, destacando que os dirigentes das empresas estavam diretamente ligados à cúpula do PCC. Com o maior efetivo já utilizado pelo Ministério Público em uma operação desse tipo, a ação demonstra o compromisso das autoridades em combater a criminalidade e proteger os interesses da população.